domingo, 20 de fevereiro de 2011

Música baiana, em Estado de imbecilidade


Amigos, recebi o texto abaixo de uma grande amiga, Edna Lopes (esposa de meu tio Tom) e quero compartilhá-lo com vocês.
Considero o momento bem oportuno devido a proximidade do carnaval. 
Sei que generalizar é muito perigoso, até mesmo porque, tem muita coisa boa acontecendo no cenário da música baiana. Infelizmente, isso a mídia não divulga porque não dá tanto IBOPE.
Leiam o texto abaixo e ouçam algumas musicas feitas por baianos nas minhas postagens mais antigas.
Grata.

Pagode baiano usa expressões chulas, palavrões que são reproduzidos por crianças, adolescentes e jovens, e que empobrecem a cultura e reforçam a ideia de um estado analfabeto.

Quando alguém pronuncia a palavra analfabetismo na Bahia, e se essa declaração parte de um acadêmico, branco ou da elite, parece tratar-se de racismo, discriminação e ódio.
Quando dizem que o som do berimbau é simplório, e que qualquer um pode reproduzi-lo sem maiores conhecimentos instrumentais, por possuir apenas uma corda, logo diriam, é mais um que odeia as raízes baianas, suas influências e sua cultura. Isso já ocorreu na Bahia e deu muito pano pra manga.
E quando dizem que a música baiana está cada dia pior, e que o pagode não passa de mais um sonoro palavrão multiplicado por milhares de incautos, ignaros e estúpidos, certamente repetiriam, trata-se de mais um a ver-nos como sub raça, desinformados e inconformados.
Pois é. E quando essa declaração parte de um pardo, de origem negra e indígena, e que cursou apenas o segundo grau? Aí, certamente dirão, trata-se de um oportunista, um comunicador frustrado ou de alguém que não conseguiu galgar os seus objetivos.
Pois bem, esse rodeio, meio despretensioso, mas importante, é para falar do grau de imbecilidade a que chegou a música baiana, principalmente ao pagode aqui produzido e consumido. Não falo do Axé, que apesar da mesmice, não usa palavrões nem ridiculariza a Bahia como Estado analfabeto.
Como estudei numa das escolas mais influentes da Bahia, principalmente nos anos 50 e 60, o Colégio Central, participei da coletânea poética em homenagem ao sesquicentenário da instituição, fiz teatro e poesia nas ruas de Salvador, pronunciar algumas palavras (ões) e gestos obscenos da música baiana é assinar embaixo aos que dizem da Bahia no Brasil afora, a de que é um povo mal educado, e que só gosta de balançar o bundalelê.
E vendo de perto, em algumas coberturas jornalísticas Bahia adentro, chego a interrogar-me quanto às minhas origens. E chego a duvidar que tivemos em nosso berço um Raul Seixas, um Castro Alves, um Wally Salomão, um Jorge Amado – que mesmo produzindo alguns palavrões, nunca foi um turpilóquio, e tantos outros que enalteceram e alguns que ainda enaltecem e fazem lembrar que tínhamos uma cultura.

Mas, quando vou ao Campo Grande, e ouço Caetano Veloso dizer que Xanddy é lindo e que ele é uma das novas expressões culturais da Bahia chego a duvidar que sou baiano de verdade, daquele que comeu tripa seca e farinha de rosca pra não morrer de fome. E acho Caetano uma das maiores expressões da música mundial, apesar de requentar vez ou outra alguma música que no passado foi considerada brega.

Aí me conformo e vou ouvir um pouco de Xangai, onde, entre as suas pérolas, fez o ABC do preguiçoso, que endossa a tese dos sulistas de que o baiano só é gente até o meio dia. E então o que será o baiano durante a tarde? É uma legião de trabalhadores, cujo estigma de preguiçoso foi amplamente difundido pelos meios turísticos, uma forma de falar da tranquilidade, da “maresia” e do sossego baiano.

O saudosismo aflora e me remete à década de 1980. Lá, até 1985, os shows em Salvador, no projeto verão, no Centro de Convenções da Bahia, eram bastante disputados. No palco, Gil, Caetano, Milton, Beto Guedes, Barão Vermelho e tantos outros que arrastavam multidões. Na Barra, shows com Morais Moreira, Luis Caldas e Armandinho com A Cor do Som, encantavam e lotavam a praia.
Retorno ao meu trabalho de coberturas de eventos com música baiana, e lá, estampada em minha frente, uma multidão de 20, 30 mil pessoas numa avenida. As meninas, os meninos, dançam como se tivessem sido libertados naquele instante. Mais parece um balé de zumbis, daquele extraído dos filmes de terror das décadas de 70 e 80. Ou então em um orgasmo coletivo, algo do tipo promovido César ou qualquer outro Calígula da nossa imaginação.
E em uníssono, eles repetem as frases, os refrões e fazem todo o gestual obsceno para completar o enredo empobrecedor. E o vocalista da banda grita, berra e pede para que todos ecoem aos quatros cantos; “Aponte o corno aí, diga que é corno”. E todos riem, como num circo, mas deveriam chorar ao debruçar a cabeça no travesseiro.

A grande maioria desempregada, deseducada e pobre. Desiludida pela face cruel do ensino que lhes oferecem nas escolas públicas, entregam-se aos bailes horrendos como se fossem a última ópera da vida deles. E se entregam de corpo e alma à missão.

Os maiores patrocinadores da música baiana no interior são as prefeituras, que gastam somas vultosas em festas, micaretas, aniversários e inaugurações, contratando bandas que em nada enriquecem a cultura popular, em detrimento do folclore, das raízes de cada cidade e de sua história. E lá se vão tubos e mais tubos de dinheiro público pelo ralo.
E voltam para casa sem saber um verso de Vinícios de Morais, sem ter-se envaidecido em ser brasileiro ao ouvir Pixinguinha, em ter-se delirado com os versos não menos preguiçosos de Dorival Caymi, em ter-se deleitado à sonoridade de Bethania e Gal, ou ter-se maravilhado ao som poético de Gilberto Gil. “Esses moços, pobres moços, a se soubessem o que eu sei”, disse Lupicínio Rodrigues em uma de suas canções imortalizada na voz de Gilberto Gil.
E aí vão me perguntar o que tenho feito para mudar o que já está construído. Nada. Sinto-me impotente. Apesar de radialista de profissão, jornalista por paixão, não consigo convencer ninguém do contrário. A música baiana vai continuar tocando assim durante muito tempo. Mas um dia acaba. Lutar contra o mercado é muito difícil. É uma máquina de fazer dinheiro a qualquer custo. E ninguém está preocupado com a educação, com a cultura, com o folclore. A mídia baiana enaltece, enobrece, escancara esses palavrórios como deuses. Até que duas meninas aparecem decapitadas numa esquina qualquer. De quem é a culpa?

Vanderley Soares
radialista/jornalista DRT 5892
Editor do Jornal Gazeta dos Municípios/Alagoinhas-Ba

Eu na capa da Revista Nova Escola - Promoção de Aniversário da Revista

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Diário de bordo


MOMENTO DE PAUSA

      Uma viagem pode ter diversos significados. Para mim significa um momento de pausa dedicado a família.
      Como diz o amigo Nino, nas viagens as pessoas revelam-se! Portanto, nada melhor do que uma viagem em família para aparar as arestas.
      A cada ano, procuramos novas aventuras, com uma barraca, muitas malas, a máquina fotográfica, o carro devidamente revisado, um arsenal de CDs e DVDs, muitas frutas e sucos… e sonhos.
     Sempre priorizamos conhecer o que temos mais próximos de nós, o interior e o litoral baiano e nordestino, dando atenção especial aos lugares pouco frequentados. Em 2011, decidimos visitar, outra vez, um grande amigo carioca, que morando em Natal-RN, sempre nos recebe com carinho, Maurício Negreiros.
    Viagem significa também, transpor obstáculos… internos e externos! E eu tenho lançado-me na senda da transmutação, revelando-me um pouco melhor a cada instante. É a quarta vez que faço a mesma viagem a Natal, mas, cada uma delas foi diferente e peculiar.  Os lugares mudam, as pessoas mudam, as necessidades são outras, os pontos de vista, a percepção de si e do outro…
     Viagem possibilita também registrar na memória e em fotografias, aquilo que mesmo tentando, não dá para compartilhar, pois a experiência é única e muito particular.
      O caminho é importante, mas muito mais importante é o caminhar… e assim, seguimos: eu, meu esposo/condutor do veículo, as duas filhas e o genro.
      Logo na divisa Bahia/Sergipe, uma parada para registrar o marco que separa os dois estados na linha do mapa do Brasil. 

Fotos Ana Lúcia Cruz


      A filha mais nova, sempre atenta e curiosa, vai perguntando sobre tudo o que vê, ouve, sente ou imagina. E haja imaginação!
      Em muitos momentos a paisagem é famiiar, mas ainda causa espanto por tanta beleza!


Travessia de Terra Caída para Porto Cavalo em Sergipe



      A fronteira de Sergipe com Alagoas é muito especial, o Rio São Francisco separando Neópolis e Penedo. Suas águas me causam estranheza, temor e ao mesmo tempo admiração e respeito!
Rio São Francisco visto de Neópolis-SE


Balsa que faz a travessia Neópolis-SE/Penedo-AL




      Já no estado de Alagoas, o preferido da família por suas riquezas naturais e pela generosidade do seu povo, deleitamo-nos com o aroma da sua marezia e a estonteante cor única de suas águas, pela vastidão da sua vegetação costeira… tudo aqui nos encanta demasiadamente!   



Praia da Lagoa Azeda-AL - foto tirada de dentro do carro




Praia do Gunga-AL



      Em Macéio, percebemos um certo descaso com a limpeza pública e este fato nos entristece, pois, ela é uma das mais belas capitais brasileiras. Macéio é um paraíso: belas paisagens, gente simpática, culinária surpreendente, preços convidativos... tudo de bom!
      A contemplação da beleza, riqueza e significação da natureza externa conduz à reflexão de como está a minha natureza interna.


Macéio-AL


      Maragogi, a última praia do litoral norte de Alagoas, sempre nos convida a uma parada para abastecer as energias. Além da paisagem, da Pizza Nordestina (feita de tapioca) e da Pizza da Regina (tradicional), tem pousadinhas aconchegantes (Oásis e Chalés Dourado), o passeio às Galés... e muito mais...



Foto Luana Oliveira

No Chalés Dourado - Foto Luana Oliveira

Recepção do Chalés - Fotos Ana Lúcia Cruz

Nosso Chalé
      
      Seguindo em frente, doidos para chegar em Natal, passamos pelo estado de Pernambuco sem paradas. Aqui, a única coisa que não negligenciamos é a paisagem natural. A vegetação é diferente, o ar é mais seco (apesar da chuva constante), não sei explicar... é uma sensação estranha!



PE 060



      
      O estado da Paraíba também tem uma força de atração que ninguém resiste!
      Acredito que a Atração é uma Lei Natural que exerce o poder de atrair aquilo (pessoa,  sentimento, pensamento, lugares, etc.) cuja vibração é semelhante.



Litoral Norte de João Pessoa



BR 101 - Paraíba-Rio Grande do Norte


      "Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito".
      Tenho 3 finalidades maiores em minha vida: trabalhar para Deus, autoconhecer e FAZER AMIGOS. Minha meta é difícil... fazer 1 amigo a cada ano de vida. Como tenho 42 anos...
      Infelizmente, ainda não tenho tudo isso, mas os amigos que tenho são AMIGOS.



Foto Deraldo Portella

Praia de Ponta Negra - Natal-RN


     Mais do que paisagens, registro o que os meus olhos veem, o  meu coração sente e a lente  da máquina fotográfica revela. Não sou fotógrafa, sou uma simples viajante, aventureira, que tem em seus momentos de folga o hábito de registrar e contar histórias através de imagens.




Centro de Lançamento da Barreira do Inferno - Natal-RN


Riquezas do nosso Nordeste: cajá, carambola, umbu, siriguela...

A caminho da Lagoa de Arituba

Curtindo a Lagoa de Arituba

O Mirante dos Golfinhos - pena que eles já tinham se recolhido!!!

Voltando a Ponta Negra


      Nessa viagem vivenciei experiências indescritíveis! Por mais que tente, só conseguirei mostrar fragmentos dessas experiências...



A caminho do Forte dos 3 Reis Magos

Travessia para a Lagoa de Pitangui






Foto tirada de dentro do carro

Foto de Deraldo Portella

Foto de Deraldo Portella
Fim de Tarde na Lagoa de Pitangui - Fotos Ana Lúcia Cruz




Retornando a Ponta Negra

Sem comentários!


      Sou grata pela oportunidade de poder vivenciar tantas experiências enriquecedoras que contribuem grandemente para o meu desenvolvimento humano.
      Obrigada, senhor, Pelo que vejo!
      Obrigada, meu Deus, pela família!
     Muito obrigada por viver e ter com quem compartilhar  alegrias e tristezas, dores e decepções, conquistas e realizações…